O início de Matador de Aluguel
conta com uma certa literalidade que irrita. Nada acontece sem que alguém faça um
comentário sobre reforçando aquilo que já foi visto, o primeiro oponente de
Dalton (Jake Gylenhaal) foge após vê-lo, somente para Frankie (Jéssica
Williams), sua futura contratante, declarar que ele colocou medo no outro
lutador.
Essa tendência acabar por apontar algo válido, no entanto, ao chegar em Glass
Keys, onde ele servirá de segurança na Taberna, bar de Frankie. Ele encontra
Charlie, filha do dono da livraria local, que após saber quem ele é e porque
está ali, aponta que é quase uma história de faroeste, onde um caubói
forasteiro vem para proteger uma pequena cidade de bandidos arruaceiros.
Matador de Aluguel não
é um western, mas a certo mérito nessa observação, pois há certa
importância, dentro do gênero, a relação que o protagonista constrói com o seu
espaço. Só para citar um exemplo, em O Estranho Sem Nome, a presença do
personagem de Eastwood muda fundamentalmente a cidade de Lago, enquanto a
prepara para se defender do ataque de uma gangue.
E quando se foca na maneira
que o protagonista se envolve com aquela comunidade o remake, conduzido por
Doug Liman, encontra seus melhores momentos. Os personagens que circundam Dalton
são variados e complexos, e o roteiro é eficiente em sugerir uma história maior
para alguns deles por meio de poucas interações, tornando aquele local rico e
vivido. As coisas não começaram só porque Dalton chegou ali, e é essa história
pregressa que torna Frankie tão apegada à Taberna. O bar é lotado de fotos de
sua família, visto que o antigo dono era seu tio.
Somado a isso, o longa
também conta com boas cenas de luta. Nada a nível John Wick, claro, mas que
possui uma condução clara, longe das edições picotadas típicas de filmes de
ação estadunidense, aqui os impactos são sentidos, e há uma rapidez feroz na
coreografia. Dalton não brinca com seus oponentes.
Porém, conforme a história se
desenvolve, Matador de Aluguel parece esquecer esses aspectos, e se
torna uma obra genérica. É dada tamanha importância para aquela comunidade e
para as relações que Dalton construiu ao longo do filme, mas, próximo ao final,
boa parte desses personagens simplesmente desaparece, até mesmo o interesse
amoroso do protagonista, Ellie (Daniela Melchior) some após um único beijo,
somente para ser usada como donzela em perigo ao final do filme.
Jogando um pouco de sal na
ferida, existe ainda a presença de Connor McGregor, como um capanga capaz de
fazer maior oposição ao protagonista, mas sua atuação parece retirada de outro
filme. Matador de Aluguel é engraçado, mas McGregor é caricato e
absurdo, e seu status força cenas de luta mais alongadas, que quebram o
ritmo do filme, como a terrível cena de quebra quebra no meio da narrativa,
completamente deslocada da simplicidade que vinha sendo norma até então.
Assim, o longa perde de
vista os elementos que o davam certo estofo dramático. No lugar de se apoiar
nas relações entre os personagens, prefere buscar um clímax mais explosivo, deixando
de lado tudo que o tornava interessante, e abraça o seu lado mais genérico.
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