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Mostrando postagens de janeiro, 2024

Crítica – SOAP

 Crítica originalmente publicada no Senta Aí “A esquerda branca está morta” declara uma das personagens de  SOAP , dirigido por Tamar Guimarães. É uma boa síntese da obra, que acompanha os esforços de um grupo de intelectuais – brancos em sua maioria – buscando maneiras de combater a crescente onda fascista no Brasil e no mundo, enquanto encaram a rotina pandêmica. O plano é criar uma novela que colocaria no ar mensagens de esquerda, sob a guisa de ser uma trama conservadora. Assim, dentro de seus apartamentos, no Brasil e na Alemanha, os personagens discutem os aspectos dessa obra, ao mesmo tempo que externam preocupações sobre os vizinhos bolsonaristas, a necessidade de uma renovação política, tudo dentro de seus apartamentos, por meios de conversas de Zoom, grupos de whatsapp e afins. No entanto, todos os esforços se dissolvem, e em dado momento, ninguém consegue se entender mais. Um acusa o projeto de ser de má-fe, outro declara que o Marxismo está morto, e tudo entra em u...

Godzilla em três momentos

  Gojira, 1954. Dir. Ishiro Honda Um momento em particular chama atenção em Gojira , que envolve personagens sem nome, cuja presença de tela não dura mais que meio minuto. No meio do caos e destruição causados pelo monstro, uma mãe está presa com suas três filhas dentro de um prédio em chamas. Abraçada às crianças, a mãe declara: “Logo estaremos com seu pai, só mais alguns minutos”. The aftermath of Godzilla's attack (1954) O filme de Ishiro Honda é despido de suspense. Os protagonistas nunca estão no meio do perigo, a narrativa faz questão de posicioná-los longe da fúria do monstro radioativo, meras testemunhas incapazes de fazer algo para impedir o arrasamento de Tóquio. Por outro lado, a obra nunca foge das imagens da guerra, e é nisso que reside sua força. Vemos uma criança sendo examinada com um contador Geiger, que apita freneticamente. Outra lamenta a morte da própria mãe diante dos seus olhos, em um hospital lotado de feridos. A principal cena de ataque do longa res...

Carol e o Fim do Mundo – Só o trabalho faz sentido

Neste momento no tempo, a Netflix possui em seu catálogo duas obras que tratam de temas similares: O fim do mundo e o que fazer da vida no cenário apocalíptico. Ambas animações, uma japonesa, a outra americana. A primeira trata-se de Zom 100 , também conhecido como Bucket List   of The Dead ou 100 Coisas Para Fazer Antes de Virar um Zumbi , nome adotado pela (medíocre) versão live action da obra, também disponível na plataforma. No anime, o protagonista é Akira Tendo, cuja vida se tornou um verdadeiro calvário por conta do seu ofício, que o explora incessantemente, deixando pouco espaço para qualquer outra coisa. Ele dorme duas horas por dia, faz infinitas horas extras e passa humilhações diárias. E o salário, ó. Logo, com a chegada do apocalipse zumbi, o fim do mundo representa para Akira uma oportunidade de ser livre, e poder, finalmente, fazer as coisas que deseja. Seus anseios vão de coisas simples, como limpar o próprio quarto, absurdas, como virar um super-herói e materia...